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A opção por viver na bolha.

Uma das coisas mais difíceis para mim nos últimos 5 anos tem sido escolher a escola dos meus filhos. Nunca imaginei que isso pudesse tirar o sono de alguém. Tudo bem, eu posso ser meio obcecada e perfeccionista no quesito filhos, mas conversando com muitas mães conscientes vejo a mesma preocupação. Antigamente não havia tantas opções de escola e de valores e me parece que era tudo mais fácil. Temos dinheiro para pagar? A escola é perto de casa? Pronto. Resolvido. Além do que, escolas públicas eram uma opção. Enfim, não passava pela minha cabeça que isso pudesse ser tão difícil, talvez porque isso não fosse minha responsabilidade naquela época.

Mas eis que chega minha vez. Há 5 anos que peregrino de escola em escola atrás do modelo ideal. Sei que não vou encontrar aquela exatamente como eu desejo, mas visitando várias eliminei muitas logo de cara. Outras ficaram na lista com seus aspectos positivos e alguns negativos. Colocando na balança a primeira escolha foi por uma escola Waldorf. Era só para a minha mais velha que estava na época com 2 anos e meio. Foi uma escolha acertada na maioria dos quesitos. As crianças brincavam e amavam a escola. Tinham área verde, espaço para correr, parque e aula ao ar livre, andavam descalços, não tinham uniforme, não tinha consumismos e disputas. Os valores e a percepção de mundo eram despertados naturalmente. Havia preocupação com a alimentação, com a natureza, com o próximo, com o ritmo de cada criança, enfim uma escola que parecia uma continuação de casa. Essa pedagogia deriva da Antroposofia que se preocupa com o "ser" e por isso me identifiquei muito. E apesar de divergir em alguns aspectos admiro muito essa linha.

Porém, e sempre tem um porém, este ano tive que mudá-los de escola e pela necessidade do momento foram para uma escola tradicional. A mudança foi radical e todos sentimos muito. Uniforme, tênis, sala de aula, aula de inglês, informática, lição de casa, alfabetização precoce. Enfim, depois do choque inicial aceitamos que seria temporário e tocamos em frente. Apesar de não concordar com muitas coisas não poderia desautorizar a instituição e amenizando no que era possível estamos chegando ao final do ano. O resultado da mudança foi visível, quando antes pediam para ir a escola inclusive aos sábados, hoje já perguntam pelo fim de semana porque não tem aula. Quando antes vinham cantando músicas infantis e com brincadeiras tranquilas hoje voltam com "Baby baby oh", Lady Gaga, brincadeiras de luta, além de assuntos impróprios para a idade.

Mas o que mais me assustou mesmo foi a questão com a alimentação. Crianças de 2 anos que levam salgadinhos industrializados (os quais eu chamo de salgadinho de chulé), refrigerante, suco de caixinha (nada mais que tinta com açúcar), bolachas recheadas, doces, pirulitos e balas com uma frequência que não deveria existir. O lanche dos meus filhos chamou tanto a atenção que as professoras vieram falar comigo pois eram as únicas crianças que tinham lanche assim. Fico muito mais chocada do que orgulhosa. Não deveria ser assim. Essas crianças estão sendo levadas a um caminho sem volta. O paladar e o hábito são desenvolvidos de pequenos. A chance de se ter uma geração mais saudável do que a nossa é cultivando os bons hábitos desde cedo.

O que mandar de lanche? Não, eu não mando só banana, pão integral e água. Mando frutas diversas, sucos sem corante, sem conservante e açúcar (da marca Suvalan e Yakult de maçã existem de caixinha pequena também), pão integral com geléia sem açúcar, Becel ou patê de tofu, doce de banana caseiro e sem açúcar, mas também bisnaguinha, biscoitos (integrais e orgânicos) e até mesmo um biscoitinho de chocolate (não recheado) vai de vez em quando. Ajudaria muito se a escola não permitisse os excessos, se a cantina servisse salgados assados de massa integral, não deixarem expostos salgadinhos indstrializados e guloseimas no balcão e proibissem os refrigerantes. Escola não é festinha, tem que dar o exemplo.

Para minha maior aflição descobri que isso é o normal. Visitei diversas escolas e exceção eram as que tinham alguma regra/restrição com relação a alimentação. Se a escola não compartilha da minha preocupação pelo menos não deveria atrapalhar minha educação. Ser permissivo é o mesmo que cometer o erro. No meu ponto de vista a escola tem sim a obrigação de ensinar e de uma forma que atinja as famílias. Devemos ter nas escolas aulas de saúde, alimentação e também de sustentabilidade e não basta colocar os cestos de lixo coloridos de reciclagem espalhados pela escola. O futuro dessa geração depende de mudanças significativas de valores e modo de vida. E depende de nós que temos essa consciência batalharmos por isso.

Queria não criá-los em uma bolha como muitos me dizem por aí. Mas como soltá-los num mundo tão perdido e desorientado? Quero ser parte daqueles que querem aumentar o tamanho dessa bolha até que ela estoure para que não sejamos mais a exceção. E que procurar uma escola não tire mais o sono de ninguém.

3 comentários:

  1. Oi Clá! Adorei a ideia da bolha ser tão grande que a exceção vire a regra. Mas parece que a mediocridade, infelizmente, impera cada vez mais...Mas ao menos a gente faz a nossa parte, fazer o quê?

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  2. Clarissa Parabéns pelo blog!
    compartilho com vc a idéia da exceção virar a regra. Continuemos a batalha.
    Solveig

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